Blog by Dani

terça-feira, outubro 30, 2007

Tiros e mísseis

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Para não perder o embalo, comprei Elite da Tropa, o livro no qual o filme foi baseado. Li em três dias. Dividido em duas partes – a primeira, constituída de histórias mais curtas, e a segunda, de uma complexa trama que põe no mesmo balaio a polícia, a política e o crime -, “Elite da Tropa” é um compacto dos piores momentos da segurança pública no Brasil, porque, embora revestido de uma fina capa de ficção, fica claro que tudo aquilo que é descrito ali acontece de verdade, todos os dias. Portanto, não estranhe se terminar a leitura com a sensação de estômago embrulhado. É normal.
Só mais um detalhe: a capa do livro foi alterada. A original era a lateral da cabeça de um policial de capacete – a atual, aproveitando o marketing do filme, é o “Capitão Nascimento”. Nada contra o ator ou o personagem, mas achei que, com essa capa, o livro adquiriu um ar oportunista, como se estivesse "pegando carona" no sucesso do filme, embora aquele tenha vindo antes deste. Sei lá, me pareceu uma estratégia comercial muito descarada.
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(Por falar nisso, não resisti e vi o filme de novo. E veria outras vezes. Afinal, cenas como aquelas, só mesmo na ficção).
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Na seqüência, engrenei com A Cidade do Sol, o segundo romance do escritor Khaled Hosseini, o mesmo que escreveu o tristíssimo O Caçador de Pipas. Neste novo livro, a história gira em torno da trajetória de vida de duas mulheres – Mariam e Laila - , contextualizada no auge de uma guerra interna e da eterna briga de foices entre as diferentes etnias afegãs. Especialista em enredos lacrimejantes, Hosseini trata de impregnar o livro de muito sangue, guerra, sacrifícios, segredos e outros ingredientes que também fizeram parte da receita do livro anterior. Desta vez, porém, a mensagem é ainda mais clara: em certas regiões do Afeganistão, nascer mulher é um fardo, uma verdadeira maldição.
A história nos absorve até a última linha, mas não escapa ao estilo do autor, que manteve as terras afegãs como cenário para as desventuras das duas personagens centrais, como acontece em “O Caçador(...)”. Do ponto de vista cultural, é chocante constatar as distorções de valores que emergem do comportamento das pessoas, levando-se em conta que a violência e a religião são quase conseqüência uma da outra. Do ponto de vista literário, não é nada muito profundo, e os diálogos são simples, comuns. Num balanço geral, o livro é bom, não é desperdício de dinheiro comprá-lo. Mas não espere mais do que já viu em “O Caçador de Pipas”, pois é basicamente o mesmo conceito.
É interessante notar que este novo livro, assim como o anterior, pode perfeitamente ser transposto para as telonas, pois é uma história adaptável ao cinema. O primeiro livro já está em vias de virar filme. O segundo, por seu conteúdo, também pode ter o mesmo destino. Vamos aguardar.
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quinta-feira, outubro 18, 2007

Atchim!

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Chá de limão com mel. Comprimido. Descongestionante nasal. Lenços de papel. Pastilhas. Xarope. Vitamina C. Cama.
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Os olhos parecem duas piscinas. O nariz está entupido. A garganta arranha e dói. Dentro da cabeça, alguém martela com vontade. Cada braço pesa 200 quilos, e minhas energias se esvaem todas num espirro.
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Samuca traz a bola, abana o rabo e me chama para brincar. Mas eu só consigo dar uns poucos passos antes de desabar no sofá mais próximo.
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Gripe maldita dos infernos.

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sábado, outubro 13, 2007

Homens de Preto

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Fui ao cinema assistir Tropa de Elite. Talvez eu tenha sido a única pessoa no estado do Rio (e da galáxia) que não tenha visto o filme antes de sua exibição "oficial", já que toda a torcida do Flamengo comprou o dito cujo pelas mãos de algum camelô. Mas eu queria ver o filme na íntegra, e, pelo que andei sabendo, o Tropa de Elite genérico nada mais era do que um "rascunho" da versão final que chegou às telas.
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Pois bem. Fui ao cinema ver o tão badalado filme, munida da indefectível pipoquinha do Palácio (para quem não conhece, o Palácio é um tradicional cinema do Rio), da coca light e do Leo, que foi a segunda pessoa do estado do Rio que não viu o Tropa do camelô.
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É claro que sempre vai aparecer um espírito-de-porco para proclamar os direitos humanos dos fascínoras e dizer que bandido deve ser tratado a pão-de-ló. Para estes, eu digo que o que eles chamam de "chacina", eu chamo de "faxina". Nunca foi tão gratificante ver o Wagner Moura varrendo os traficantes à bala, esfolando mauricinho chapado e fazendo a assepsia da cidade. Acho que é o sonho de todo carioca, pelo menos na atual conjuntura.
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O filme, não se pode deixar de dizer, foi muito bem produzido. A interpretação visceral e irretocável de Wagner Moura e as situações mostradas tornam a trama assustadoramente real, talvez por sabermos que é quase isso. As cenas são fortes, mas o tom quase bem-humorado impresso à narrativa e aos diálogos, de certa forma suavizam o espetáculo bélico.
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A atuação do BOPE, embora possa ter suas falhas, é vista como exemplar no momento complicado que vivemos, pois sua missão é justamente exterminar a bandidagem e desmantelar esquemas de tráfico de drogas e armas, principalmente. No filme, os "caveiras" são mostrados como incorruptíveis, mas é provável que esta seja justamente a parte ficcional do filme.
Os atores e a produção do filme garantem que o Capitão Nascimento (Moura) não deve ser visto como herói, pois esta "não é a leitura que eles têm do personagem". Mas quem mora no Rio ou em qualquer outro canto do país assombrado pela violência quer uma tropa de "caveiras" combatendo a criminalidade. As pessoas se mostram satisfeitas ao fim da sessão, mesmo após aquele banho de sangue mostrado nas cenas. A razão é simples: a segurança pública é precária e conivente, e permite que a violência nos espreite por toda parte, principalmente do alto dos grandes observatórios que se tornaram as favelas. E também não tem essa frescura de chamar favela de "comunidade carente". Isso é hipocrisia, um eufemismo totalmente desnecessário. Favela é favela, e ponto. Carentes somos nós, de segurança e de honestidade. Por isso louvamos as ações do filme: queremos justiça, queremos que alguém nos defenda.
O único problema é que o trabalho dos caras é como enxugar gelo: eles matam dez vagabundos hoje, amanhã surgem cinqüenta. Tudo o que é ruim se prolifera como baratas no lixo.
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O filme também escancara a corrupção e toda a sorte de bandalheiras da polícia militar convencional, a quem os policiais do BOPE chamam "pés-de-cão"; mostra o penoso treinamento de guerra a que são submetidos os "candidatos" a caveira e nos coloca praticamente dentro do cotidiano daqueles homens de preto para quem "missão dada é missão cumprida".
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Na esteira do filme, comprei Elite da Tropa, o livro que deu origem à versão cinematográfica e que agora, em virtude do grande sucesso do filme, está vendendo que nem pão quente. Sua leitura, aliás, é reveladora, perturbadora e o que é pior - verdadeira. Sabe aquelas coisas que você achava que a polícia fazia para ganhar dinheiro? É ainda mais sórdido do que se pode imaginar. Envolve o tráfico e os políticos de um modo geral, em um nauseante jogo de interesses tecido numa trama na qual todos têm de sair beneficiados, seja qual for a maneira suja que encontrarem para atingir seus objetivos.
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Agora, a polícia está intimando o diretor do filme e os autores do livro para que deponham e prestem esclarecimentos a respeito da produção do longa. O Leo escreveu sobre isso AQUI.
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Veja outras curiosidades sobre o filme aqui.

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terça-feira, outubro 02, 2007

Quero um dry martini

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Sou do tipo que fica órfã de novela boa. Quando é ruim, deixo de ver vários capítulos e torço para acabar logo. Mas quando a história é bacana, gostaria que pudesse durar mais de um ano. Estou órfã de Paraíso Tropical. Mas neste horário agora só passa Duas Caras, que, pelo que pude constatar, começou com uma certa rejeição por parte do público. Aquilo é uma mistura de Senhora do Destino, Cobras e Lagartos e Carga Pesada.
Pelo visto, não fui só eu que torci o nariz para o folhetim substituto. Achei meio tosco, com falas repetitivas (em menos de 6 minutos, os personagens repetiram quatro vezes a expressão “de uma vez por todas”!). Marjorie Estiano é chata de doer, Letícia Spiller foi uma ótima paquita e já vi Caco Ciocler em momentos melhores. Será que eu agüento, gente?
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. Meu dry martini, por favor. Com aquele gim turbinado.

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