Blog by Dani

domingo, janeiro 08, 2006

Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo...

.
Quando eu era criança, gastava toneladas de papel e caixas e mais caixas de lápis coloridos. Escrevia, desenhava e pintava o dia inteiro, principalmente nas férias, quando meus afazeres escolares não brecavam minhas “manifestações artísticas”.
Meu pai não saía da papelaria, comprando centos de papel, cadernos de desenho e lápis, hidrocores, guaches e pincéis, que eu consumia vorazmente, assim como vários livros.
Em frente ao consultório dos meus pais havia uma livraria, a “Ponto de Encontro”. Eu ia pra lá e ficava a tarde inteira sentada entre as prateleiras dos livros, lendo, como se estivesse em uma biblioteca. Os donos não se incomodavam, porque geralmente eu comprava os livros que lia – para ler de novo outras vezes. Eu acreditava – e ainda acredito – que a cada nova leitura, encontram-se novos detalhes não detectados na primeira vez.

Com aproximadamente sete anos, passei a escrever histórias e ilustrá-las. Meu acervo infantil contava com vários “volumes”. Fazia versinhos e poesias encomendados pela vizinhança. Enveredei também pelo mundo dos quadrinhos, onde criei diversos personagens, inspirados principalmente nos meus amiguinhos aqui da rua e da escola. Nessa época, desenhava e pintava alucinadamente e não havia papel que chegasse.
E foi com horror que minha mãe encontrou, um dia, as paredes branquinhas, recém-pintadas dos fundos do seu consultório, amplamente grafitadas com caneta Bic. Pelo visto, naquele dia me faltou papel, e eu achei que mamãe ficaria feliz em ter suas paredes decoradas com minha “arte” – no sentido duplo. Não ficou.

Anos mais tarde, fui estudar Publicidade & Propaganda, visando me profissionalizar nas coisas que fiz a vida inteira: desenhar, escrever, criar. Mas, em pouco tempo, descobri que isso nem sempre dava dinheiro, e que eu não poderia me dar ao luxo de trabalhar apenas pelo “prazer da profissão”. Afinal, publicitário também tem que comer e pagar contas.
Lembrei-me então das palavras proféticas do meu pai, enxergando-me atrás das resmas de sulfite:
- Vai ser tabeliã.
Ele tinha razão. Hoje em dia, meu destino realmente parece ser o serviço público ou afins. Sempre adorei papéis, mas não exatamente no sentido burocrático. Acontece que não encontro opções, e nem sei se seria assim tão competente para fazer atualmente o que fazia em escala industrial quando criança. Ao que parece, minhas ambições artísticas e literárias foram deixadas de lado em nome das mais básicas necessidades humanas.
Então estudo apostilas chatíssimas, leis entediantes, parágrafos e incisos intermináveis, martelados incessantemente na cabeça, para ver se ficam. Tudo pela estabilidade financeira e profissional de um emprego do governo.
.
Deixei de desenhar há algum tempo, quando as esperanças também começaram a me abandonar. Meus dois últimos desenhos foram um auto-retrato e um retrato da minha mãe, feitos com lápis preto Koh-I-Noor.
Agora, raramente desenho, mas continuo escrevendo. Inclusive, foi por esta razão que “fundei” o blog – para brincar um pouco de redatora e expor meus pontos de vista.
Mas ainda olho cobiçosamente para aquelas caixas de lápis aquareláveis da Faber-Castell...

21 Comments:

  • At 3:47 PM, Blogger Leleco said…

    Dani,

    Como sempre seus posts são carregados de emoção. Leio e releio seus posts com muito prazer. São leves e interessantes.

    A vida nos obriga a sermos práticos e a abandonar nossos sonhos e aptidões. É difícil a realização profissional naquilo que mais gostamos. No Brasil as coisas funcionam na base do Qi (Quem indica). Só sendo assim para vencer na profissão que abraçamos na faculdade.

    Pretendo também um cargo público, e sei que milhares de brasileiros disputam esse cargo comigo.

    Temos de ser persistentes, mas nunca esquecer de nossos sonhos. Um dia se realizarão.

    Mil Beijões, meu amor

     
  • At 5:44 PM, Blogger Mr. San said…

    Se você ainda não tem, compre um scanner e nos apresente seus desenhos. Eu, pelo menos, com certeza vou gostar, pois adoro desenhos. Um grande abraço e pense com carinho nessa idéia. Bjs.

     
  • At 10:19 PM, Anonymous Anônimo said…

    colega, sinceramente

    Tenta também outra cidade. se atira, tenta emprego num escritório d epublicidade. Vc tem potencial... Vc consegue transformar um blog com template simples, ema lgo tão simpático...

    Vou dar um xingão na galera. qquem sabe o card chegue!!1

    Abs

     
  • At 10:32 PM, Blogger Sérgio said…

    Vc falou de lapis de cor e logo veio a minha cabeça aqueles conjuntos da Faber-Castell.Ocre, Azul Cobalto, amarelo ouro, etc etc.
    Infelizmente meu talento para o desenho sempre foi abaixo da crítica.Mas sempre admirei que o soubesse.
    Prossiga no seu sonho.Acho legal isso...
    Beijo !

     
  • At 9:10 AM, Blogger Nelsinho said…

    Sobreviver é preciso e ninguém pode passar sem uma cotidiana porção do vil metal com que se compram os melões...

    Mas sonhar e alimentar esses sonhos também é preciso!
    Contuinua desenhando e escrevendo teus textos aqui!

    Nelsinho

     
  • At 10:31 AM, Anonymous Anônimo said…

    Seria bom se toda criança tivesse um pouco disso...

    Meu filho tem!

    Beijos

     
  • At 2:56 PM, Anonymous Anônimo said…

    Nunca fui excelente para desenho, mas tenho outros dotes artítisticos... agora, tabeliã eu JAMAIS conseguiria ser, eu sou muito confusa.
    Beijos!

     
  • At 3:50 PM, Blogger Chris said…

    Oh, Dani! Não desiste não... vai levando o serviço público por enquanto, mas no futuro, você pode conseguir o que deseja.
    []'s

     
  • At 5:53 PM, Blogger Jôka P. said…

    Eu faço o contrário :
    sempre desenho.
    E rarament escrevo.
    :D

     
  • At 7:12 AM, Anonymous Anônimo said…

    Eu nunca tive o dom do desenho. Fazia coisas tão medonhas que nem mesmo minha mãe fingia que achava bonito - rs... Acho que é por isso que me limitei apenas a escrever.

    Beijos, moça. Tudo sempre muito bom de se ler por aqui.

     
  • At 10:11 AM, Blogger Lyly said…

    Oi Dani, bom dia !! Hoje o dia está corrido, mas depois eu volto aqui para ler melhor seu post, eles são maravilhosos. Beijão.

     
  • At 10:48 PM, Anonymous Anônimo said…

    Dani,
    Que post gostoso de ler!!
    Até uns quatorze anos sempre gostei de desenhar e pintar tb. Não tanto com tintas mas com lápis.
    Depois parei também.
    Com os lápis e as cores podemos pintar o que muitas vezes nos apresenta em preto-e-branco e que gostaríamos que fossem coloridos.
    Linda semana pra vc
    Um forte abraço

     
  • At 1:40 PM, Anonymous Anônimo said…

    Sempre percebi que você é uma artista, e seu talento transparece pelas suas belas palavras. Continue assim...acho que se o mundo tivesse mais "artistas", tudo seria mais bonito. Grande beijo!

     
  • At 9:17 PM, Blogger Jôka P. said…

    Vim agradecer as palavras bacanas que deixou pra mim e ouvir mais um pouco dessa musiquinha legalzérrima !
    Bjs1
    :D
    Jôka P.

     
  • At 10:32 PM, Anonymous Anônimo said…

    Puxa, mas vc é uma artista nata, que lindo! Eu tb desenhava muito quando era criança, e fazia modelos de roupas (praticamente uma estilista :P) mas nunca quis trabalhar com isso, sei lá pq. Talvez pq tb gostasse muito de ler e escrever, não sei. Mas eu fiquei curiosa pra ver seus desenhos. Eu não sei fazer retratos de pessoas, mas minha irmã, sim. Teve uma época em que ela fazia retratos de artistas, copiava de revistas, e ela é tão boa, que até o olhar da pessoa ela consegue captar.
    Fica idêntico, perfeito. É uma artista, mesmo. E tb não fez faculdade relacionada com isso, fez Ed. Física. Vá entender :P Tomara que vc ainda consiga atuar na sua área, ainda que seja como hobby. Um talento assim não pode ser desperdiçado :) Beijos ;)

     
  • At 9:24 AM, Anonymous Anônimo said…

    Dani, ainda bem que existe o blog para vc dividir seus escritos e até desenhos conosco.
    Sabe, odeio essa coisa da gente não poder fazer o que gosta porque não dá dinheiro. Frustrante mesmo.
    Beijo.

     
  • At 1:19 PM, Anonymous Anônimo said…

    Dani, essa da Cida sereia não dá, né? Hahahahaha. Adorei essa da Sereia encalhada, mas acho que ela parecia uma bruxa horrorosa. Que é aquilo? O dinheiro não melhorou sua aparência, em nada. Que pena!

     
  • At 1:56 PM, Anonymous Anônimo said…

    atualizei.... E vc? Tbém tá com preguiça?

    Bjocas

     
  • At 3:10 PM, Blogger dr x said…

    Dani

    A fórmula que muitas pessoas estão usando para entender o mundo e a si mesmas é baseada em duas perguntas: o que está acontecendo e como eu estou. Seguindo essa fórmula, elas criam primeiro o mundo lá fora para depois, então, ficarem bem. Está na hora de inverter essa ordem e começar perguntando “como estou”, para depois querer saber o que está acontecendo. Agindo assim, você descobre que é um ser consciente e de paz; a partir daí, consegue observar as coisas ao seu redor com outra perspectiva, isso agora relembrando os lápis de cor . Comece então a inverter a fórmula, essa é uma das chaves para o sucesso verdadeiro e quem sabe conheceremos melhor vc..

    abraços

    drx/SP

     
  • At 8:48 PM, Blogger Adri said…

    Uma das coisas que eu ainda mais reluto é fazer concurso público. Se fosse na minha áerea, TALVEZ eu fizesse, mas paras er Assessor de Juiz, Fiscal do Ibama, do Trabalho....não!
    Infelizmente a grana é boa, mas o tesão de ir trabalhar naquilo que a gente ama não tem preço.
    Mas torço para que tu passe logo num concurso e quem sabe monta um negócio paralelo? Uma livraria? HEHEHE
    Bjs

     
  • At 1:09 PM, Blogger Unknown said…

    Depoimento de uma burocrata: eu desenhava, pintava, bordava e ainda tocava alguns instrumentos. Como profissão mesmo, eu sonhava em ser cientista, a princípio física nuclear, depois, mais pé no chão, química farmacêutica. Fui levada pela vida às rotinas do comércio exterior. Dei sorte de ter trabalhado em empresas nas quais toda a minha burocracia era claramente vista como parte do processo produtivo: sei que tenho que trabalhar cada vez melhor para que o produto da empresa saia, no fim, melhor ainda. Sabe que é assim que eu me inspiro? Os desenhos ficaram de lado, os instrumentos também. Mas são agora, refúgios particulares para a papelada que me cerca. Nem todo serviço público vai ser como o estereotipado burobrata da repartição - só se você se fizer assim. Faça a diferença! Manda ver e inspire-se!
    Beijão!

     

Postar um comentário

<< Home