Blog by Dani

quarta-feira, outubro 12, 2005

Ser criança

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É possível que eu esteja enganada, mas às vezes tenho a impressão de que antigamente as crianças eram crianças por mais tempo, ou pelo menos sabiam aproveitar melhor a infância. A minha, por exemplo, já estava com o prazo de validade vencido, quando minhas Barbies deram as costas para mim, recusando-se a continuar a brincadeira.
Guardo com uma certa nostalgia esses tempos em que os percalços do mundo adulto mantinham-se a uma distância segura dos meus devaneios pueris, e que todos os sonhos – absolutamente todos – pareciam perfeitamente realizáveis.
Na década de 80, período em que se ambientou meu alegre tempo de criança, os baixinhos ainda não viviam vidrados nos jogos de computador, nem estavam condenados à clausura dos asfixiantes playgrounds.


Fazendo um retrospecto, reuni alguns flashes desta fase tão divertida quanto passageira, e que fazem parte dos capítulos iniciais da minha história pessoal:

* ainda nem andava quando ganhei da minha madrinha o meu primeiro boneco, o Feijãozinho. De vez em quando, ainda esbarro com ele em algum canto do armário;

* tive um carrinho vermelho, daqueles de sentar dentro e sair pedalando. Uma vez, tentei fazer-lhe uma “lanternagem”, usando o vidro de esmalte de unhas de uma visita;

* pedi um boneco Fofão no Natal, mas quando ia para a cama, virava o dito cujo para a parede – eu o achava feio e sinistro;

* houve uma época em que andava fissurada na Xuxa e em tudo o que fosse da Xuxa. Inclusive aquelas sandalinhas horrorosas e as inesquecíveis botas de amarrar;

* tive ainda umas mil Melissinhas, que traziam como “apêndice” os mais variados acessórios, que iam desde bolsinhas e pochetes até reloginhos em forma de coração – tudo de plástico, e geralmente rosa;

* também me rendi à febre do bambolê, e um dia fiquei 40 minutos rebolando naquele negócio – na certa pretendia entrar pro Guiness;

* passava voando de bicicleta pelas ruas do bairro, levantando poeira, com pressa para ir jogar bola na casa dos amigos da vizinhança;

* adorava tomar banho de chuva, e levei broncas memoráveis ao chegar em casa com o cabelo pingando, depois de saltitar no temporal;

* tinha medo de vampiro, mas mesmo assim insistia em ver filmes de terror. Depois, na hora de dormir, não pregava o olho nem por um decreto;

* fiz questão de acreditar em Papai Noel pelo maior tempo possível – até quando já não dava nem para fingir que eu acreditava;

* depois de engolir água em várias piscinas, aprendi a nadar sozinha, na praia;

* tinha uma coleção de bonecas Barbie, mas a minha preferida era uma Barbie americana, presente de Tia Etelvina;

* colecionava papéis de carta, e tinha um enorme orgulho da minha imensa coleção, que eu levava para a escola para trocar com outras menininhas;

* já fiz bolinho de terra com forminha de gelo;

* colecionei joaninhas num “jardim artificial” montado dentro de uma caixa de papelão.

* desenhava e escrevia exaustivamente, e meu pai perdeu a conta de quantas resmas de papel e de quantos mil lápis de cor comprou para alimentar minha “expressão artística”. Eu escrevia e ilustrava histórias, além de fazer revistas em quadrinhos.

Enfim, foram muitos os momentos alegres, os brinquedos e as histórias. Com as memórias que guardo deste período, eu seria capaz de escrever mais umas quinhentas linhas, descrevendo as incontáveis façanhas daqueles dias róseos, em que os adultos me advertiam, em tom de brincadeira:

- Aproveite enquanto é criança. Depois você cresce, e aí vai ver o que é bom pra tosse.

Antes fosse xarope.

7 Comments:

  • At 3:42 PM, Blogger Michel said…

    Puxa, esse texto me fez voltar no tempo, lembrar coisas que jamais poderia.
    Acho que tivemos a última época em que se pode chamar de infância.

    Abraços

     
  • At 4:45 PM, Blogger Unknown said…

    Temos um lado criança que nos acompanha a vida toda. O lado adulto teima em manter esta criança presa. E deixa de ser criativo, perspicaz e feliz.

     
  • At 9:43 PM, Anonymous Anônimo said…

    Oi Dani, que legal receber sua visita no mania...Feliz dia das crianças pra vc tbém!
    Ah, eu senti sdaudades do meu Feijãozinho rosa, faz pouco tempo que o separei para dar a alguma criança e espero qe ele tenha cumprido a missão dele de fazer uma criança feliz!
    Beijinhos

     
  • At 1:11 PM, Anonymous Anônimo said…

    É as crianças hoje em dia, ficam adultas antes do tempo, é muita informação, no nosso tempo as coisas eram mais devagar, as brincadeiras mais "humanas", tenho sorte de ter nascido naquela época, não troco pela de hoje não. Bom, eu também não gosto de festas de final de ano, acho muita falsidade, é por isso que vou atrás de grana para sumir...hehehe. Como vc disse, Antes fosse só xarope. Tu é Publicitária? Fui Diretor de Arte da Revista About, por 3 anos... mundo pequeno... Beijo.

     
  • At 4:46 PM, Anonymous Anônimo said…

    Uau!!!!!! Q post legal!! Inclusive o final... ^^ adorei, viajei legal no q vc escreveu... + eu defendo a infância atual!! Vc pode ñ imaginar c/ possam ser divertidas as brincadeiras modernas, + isso é pq vc ñ consegue imaginar a SuA infância s/ as brincadeiras q fazia. Até pq, td isso q vc falou ñ deixou d existir.

     
  • At 5:14 PM, Anonymous Anônimo said…

    Antigamente as crianças eram mais infantis. Sabiam aproveitar a infância sendo crianças. Eram brincadeiras ao ar livre, aeróbicas, como "bater pique" e suas variações, pular corda, esconde-esconde...
    Hoje em dia as crianças adoram mais jogos de computador, e por isso se tornam sedentárias...
    Lembro da época em que brincava muito, de todas as brincadeiras possíveis. Com 14 anos nem sabia o que era namorar, pois ainda brincava de "Comandos em Ação".
    Hoje em dia, um rapazinho de 14 anos, até já perdeu a virgindade...e consequentemente as meninas já não são tão inocentes quanto eram. Se uma menina brincar de boneca dos 12 aos 15 anos, serão ridicularizadas pelas coleguinhas...Hoje, aos 15 anos, muitas já estão grávidas...
    Pena que seja assim, pois quando perceberem que a melhor fase da vida é a infância, vão querer retornar, e saberão que não há volta no tempo.
    Já perdi a conta de quantas festas de 15 anos já fui. Hoje, as festas de debutantes não existem mais...tempo bom mesmo...
    Não sei onde vamos parar....mas tenho certeza que fui feliz e não sabia...rs
    Feliz dia das crianças para todos...

     
  • At 10:01 PM, Anonymous Anônimo said…

    Puxa, esse teu texto me fez dar um flashback na caeça. Tbem escrevia histórias e desenhava, curtia as moranguinhos,sabe e acordava cedo pra ver a Xuxa!
    hehehehe
    Agora não aocrdo nem por decreto!
    Lindo teu texto!

     

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