Desmistificando o Referendo
É errôneo afirmar que o maior índice de mortes por armas de fogo no Brasil ocorra em desavenças domésticas ou em brigas de bar. Isso não é verdade. Apenas 3,5% dos brasileiros possuem armas de fogo, e desarmar esta pequena parcela da população não diminuirá a violência. Vale lembrar que as armas ilegais, em muito maior número no Brasil, não serão alcançadas pelo desarmamento nem pela lei proibitiva às armas de fogo e munições.
Os motivos me parecem elementares:
>>> As mortes por arma de fogo ocorrem quase sempre nas ruas, por ataques de bandidos em roubos, assaltos e seqüestros ou em confrontos armados entre bandidos e policiais, resultando inclusive em balas perdidas. E bandidos, como sabemos, não serão desarmados se a lei for instituída.
>>> Durante uma briga de casal, por exemplo, mesmo que não haja armas de fogo na casa, sempre é possível atacar o outro com uma faca, – que afinal de contas também é uma arma, também fere, e também mata – ou com um machado, uma tesoura ou qualquer outro instrumento. Até mesmo com as próprias mãos, pois a propensão para atos violentos está impressa na índole da pessoa, não no fato de possuir ou não uma arma em casa.
Quanto aos acidentes domésticos, não creio que a solução seja proibir o comércio de armas no Brasil. Os responsáveis pela arma é que precisam se conscientizar de que não podem deixar um revólver carregado e engatilhado dentro de uma gaveta acessível aos filhos pequenos ou outras pessoas. A prevenção é algo perfeitamente possível.
Crimes bárbaros e nacionalmente conhecidos já foram cometidos sem o uso de armas de fogo. Alguns exemplos:
>>> Caso Suzanne Louise Von Richthofen (2002): os irmãos Cravinhos, cúmplices de Suzanne, assassinaram os pais dela, Manfred e Marísia Richthofen.
Arma utilizada: barras de ferro.
>>> Caso Guilherme de Pádua (1992): Guilherme de Pádua, juntamente com sua então esposa Paula Thomaz, armaram uma emboscada para matar a atriz Daniela Perez, de 21 anos, abandonando seu corpo num matagal após o crime.
Arma utilizada: tesoura.
>>> Caso Pistone (O Crime da Mala - 1928): o imigrante italiano Giuseppe Pistone, durante uma discussão com sua esposa (a também italiana Maria Fea, na época grávida de 6 meses), estrangulou-a. Para dar sumiço ao corpo, tentou colocá-lo dentro de uma mala do tipo baú. Como não coubesse inteiro dentro da mala, mutilou-o cortando parte das pernas.
Arma utilizada: as próprias mãos e uma navalha.
O que realmente mata é a violência, que pode ser executada com qualquer instrumento. Sendo assim, seria coerente que a proibição fosse extensiva também à comercialização de facas, garrafas de vidro, ferramentas de jardim, barras de ferro, canivetes, navalhas, instrumentais cirúrgicos, e mais uma lista interminável de artefatos de que uma mente perigosa poderia se utilizar para cometer crimes.
Para ver o que foi publicado sobre o assunto na revista VEJA desta semana, clique aqui.
5 Comments:
At 8:22 AM, Unknown said…
Dani,
Você já pensou em ser jornalista?
At 11:54 AM, Anônimo said…
Certíssima, Dani!
Quanto ao coment anterior... realmente você tem talento menina!
At 1:28 PM, Anônimo said…
Seu texto foi brilhante. Você, em poucos parágrafos disse tudo.
Os crimes não são cometidos por armas e sim pelas pessoas, pela violência. Não sei das estatísticas certas, mas acho que os crimes mais brutais foram cometidos sem uso de armas de fogo.
Antes de proibir o uso de armas de fogo, devemos combater esta violência sem fim.
At 1:33 PM, Anônimo said…
cara, na boa...eu digo SIM.
At 2:55 PM, Dani said…
Danielle, cada um tem o direito de pensar da forma que quiser, e embora eu discorde totalmente da proibição, respeito as motivações de quem pensa de forma contrária.
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