Blog by Dani

quarta-feira, setembro 21, 2005

Coelhinhos na cartola



Que me perdoem os que gostam, mas eu não consigo conceber os livros, colunas ou qualquer outra coisa escrita ou dita pelo “pseudo-guru” Paulo Coelho.
Quando era adolescente, cheguei a ler alguns dos seus livros, a título de curiosidade. Li primeiro “Brida”, depois “O Alquimista” e ainda me arrisquei a ler “As Valkírias” – em cujas linhas concluí o que já suspeitava: trata-se de um charlatão. Mas não um charlatão qualquer.

Após peregrinar pelos caminhos de Santiago de Compostela, envolveu-se numa aura de misticismo e pôs seu projeto em execução. Afirmava ter visões e diz ter sido agraciado com poderes que o permitiriam fazer chover, se quisesse. Intitulou-se “Guerreiro da Luz”, uma mistura de mago e guru espiritual, e passou a escrever como um mensageiro sabe-se lá de que entidade do universo. Agarrando-se ao fato de que o ser humano necessita de algo etéreo em que acreditar, construiu sua carreira literária (!?) em cima disso. Embarafustou-se por temas obscuros como bruxaria, magia, rituais, mentalizações, iniciações, e com isso foi angariando “seguidores” (inclusive muitos famosos) de seus duvidosos preceitos, por toda a face terrestre. Alçada a fama internacional, vendeu trocentos livros, traduzidos em vários idiomas e, surpreendentemente, passou a envergar um fardão na Academia Brasileira de Letras (agora pouco exigente, desde que José Sarney açambarcou-lhe uma cadeira, pelo inexpressivo “Marimbondos de Fogo”). Não pensei que um escritor pudesse ser admitido na ABL por vendagem de livros. Sempre achei que fosse pela qualidade de sua obra, coisa que de forma nenhuma identifico no que escreve Paulo Coelho. O que de fato vejo é uma enxurrada de parlapatices místicas, despejadas em mentes incautas e crédulas de todo o planeta.
Uma coisa não se pode negar: o sujeito é esperto. Sua coluna “Maktub”, publicada no jornal Extra, é de uma subjetividade tal que, quaisquer que sejam as motivações do leitor, sempre haverá uma forma de interpretação compatível com as experiências de quem lê. Filosofia barata, e com a profundidade de um pires.
Quando jovem, Coelho foi internado por três vezes, e pela própria família, na Casa de Saúde Dr. Eiras, de onde sempre arranjava um jeito de fugir. Fora dali, conheceu Raul Seixas, escreveu-lhe algumas letras e, algum tempo depois, finalmente provou que jamais foi um doido varrido. Mas também não é um bruxo. Na verdade ele é um mágico: soube fazer brotar uma dinheirama em sua conta bancária de forma espantosa.

Nem Mister M faria melhor.

2 Comments:

  • At 7:09 PM, Anonymous Anônimo said…

    Há quem critique este post, mas eu concordo plenamente com você. Ele só teve um mérito na vida, o da esperteza. Assim como ele, tantos outros enveredaram-se por este caminho, o que para mim não tem mérito algum.
    É difícil surgir artistas e escritores de talento hoje em dia.
    A Academia Brasileira de Letras deve estar vendendo cadeiras...rs
    Não tem como compará-lo a escritores do porte de Machado de Assis, José de Alencar, Lígia Fagundes Teles, entre outros.
    Não consigo entender como ele entrou nesta academia. Devem ter levado em consideração só a quantidade de livros vendidos, e não a qualidade.
    Estamos vivendo numa crise cultural há muito tempo, com raríssimas exceções.
    Como você bem disse, é um charlatão metido a escritor.
    Quando Machado de Assis era vivo talvez nunca imaginasse que um imbecil do quilate do Paulo Coelho pudesse vir a ser um "imortal", e agora, deve estar se contorcendo no túmulo. O Paulo Coelho não passa de um Edir Macedo da literatura(literatura?).
    Tem gosto para tudo. Mas gosto não se discute, lamenta-se....rs
    Mil Beijos, meu amor
    Leleco

     
  • At 10:08 PM, Blogger Unknown said…

    Por que algumas pessoas, com um valor extraordinário, não têm sucesso enquanto que outras, consideradas medíocres, chegam lá?

    O mundo está cheio desses exemplos. Há algum diferencial que não consigo identificar. Alguns chamam de sorte, outros de destino, outros de karma.

    Sei lá. Como disse Vinícius, "A vida é uma grande ilusão. Só sei que ela está com a razão".

     

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