Histórias cariocas
Há certos livros que adoro e que estou sempre relendo, para com isso vivenciar novamente o deleite da primeira leitura.
Já faz algum tempo, meu pai apareceu em casa com “Ela é carioca – Uma enciclopédia de Ipanema”, do Ruy Castro, escritor de que aliás gosto muito. O livro é organizado em “verbetes” ordenados em ordem alfabética, mas eu prefiro lê-los aleatoriamente – abro numa página qualquer e me esbaldo/ emociono/ informo com qualquer que seja o verbete, pois todos são interessantes.
“Ela é carioca” traz histórias e personalidades de um Rio que infelizmente deixou de existir. Um Rio que produzia gênios e transbordava de cultura, que se rebelava contra o sistema, que se divertia e criava aos borbotões. O que lemos na deliciosa enciclopédia de Ruy Castro nos remete àquela Ipanema formadora de opinião e de espíritos criativos: poetas, músicos, intelectuais, musas e bêbados que tornaram o Rio o ponto de referência do Brasil. A Bossa Nova – que se tornou ao mesmo tempo trilha sonora e símbolo carioca, popularizando a cidade no exterior – teve seu berço em Ipanema, pois segundo consta no livro, “ia a Copacabana para trabalhar, mas para morar, criar e se divertir, seu território era Ipanema”.
É com uma espécie de “nostalgia do não-vivido” que lamento não ter estado lá e participado (ainda que como mera observadora) de todo aquele processo revolucionário que culminou com a instauração de novos valores. Velhos tabus foram quebrados; a cultura foi usada para conquistar liberdades cerceadas por um governo autoritário, numa época em que a liberdade de expressão era considerada crime. Foram mudanças que acabaram por repercutir em todo o país, ainda atados a um conservadorismo pouco flexível. O Rio e sua borbulhante Zona Sul transformaram decisivamente o Brasil e as gerações futuras.
Para quem teve o privilégio de já ser nascido nesta época, é uma agradável volta ao passado.
Para quem, como eu, não estava ainda por estas paragens, é uma forma de conhecer um pouco mais sobre as raízes da cultura carioca e alguns dos seus fascinantes personagens.
3 Comments:
At 1:54 AM, Anônimo said…
Esse seu post de hoje me fez lembrar de um trecho de um poema que gosto muito... Ele diz:
"
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei
Ai como tenho saudades
Dos sonhos que não sonhei
"
At 7:31 AM, Unknown said…
Dani,
Quero assistir ao filme "Coisa mais linda" mas sei que vai ser muita emoção. A saudade dói. E como dói. Na época da bossa nova eu tinha 15 anos e estudava em Copacabana, no Mallet Soares. Pela minha turma, dois anos antes, passou o Carlinhos Lyra. Tenho a foto das duas turmas, da minha e da dele, no Alma Carioca.
Gostaria de colocar esse texto no Alma Carioca, em "Memória", na seção dedicada à bossanova. Você se importa?
At 12:03 PM, Unknown said…
Dani, o texto já está no ALMA CARIOCA, em MEMÓRIA (Sons da bossa nova).
O ALMA existe desde 1999. Ele está com 1818 páginas e vai crescendo com as coisas boas que encontro nas minhas viagens pela web.
Você escreve muito bem e deve, até, incluir essa qualidade no seu currículo, se já não o fez.
Se possível me informa o seu nome para que possa colocar o crédito completo.
Bom fim de semana, um abraço no Leo.
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