Fanatismo epidêmico

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Tenho estado ausente do blog, reconheço.
Tenho estado também muito atarantada com o desenlace iminente. Aquele, o do 29 de outubro.
Eu não assisto mais aos debates. Sinto-me nauseada, desgostosa e irritada. Tais embates políticos são contra-indicados para mim, dada a minha furiosa indignação.
Como pode uma nação inteira ignorar a torrente de escândalos, cinismo e roubalheira envolvendo o presidente-cangaceiro? Como é possível que relevem seus crimes e se comportem como se tudo o que se vê, ouve ou lê fosse mentira ou intriga da oposição?
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Há algo estranho no ar. Um estado de imbecilidade coletiva, um fanatismo inabalável, quase um islamismo político.
No dia 29, eleitores-bomba estarão dando seu último suspiro antes de apertar a tecla verde. E depois explodirão, junto com todo o país, certos do que fizeram, mas indo enganados para um lugar que pensam ser o paraíso.

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As últimas pesquisas apontam: 61% vão votar no homem. Ninguém confessa, e eu me pergunto: quem?

Olho com desconfiança para o gerente do banco. Para a caixa do supermercado. Para o motorista do táxi. Vejo inimigos em potencial espalhados pela cidade, pelo estado, pelo país inteiro. São invisíveis, mas são a maioria. Isso é simplesmente aterrorizante. Uma multidão de fantasmas absolutamente enfeitiçada pelo dito cujo, e nem sabemos que gente toda é essa. Só sabemos que existem depois de realizadas as apurações.

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E não me venham com aquela história de "população desinformada", que essa já não cola mais.

A lama petista está em todos os jornais, revistas, sendo notícia nas rádios e na TV. E qualquer descamisado da favela tem uma televisãozinha no barraco, com ou sem papel celofane colorido. Ou, pelo menos, um mísero radinho de pilha.

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O povo "não sabe" porque não quer, espelha-se no ídolo sem-dedo.

Aliás, é interessante observar como o comportamento do povo se assemelha ao daquele que ovacionam: agem exatamente como ele, fingindo desconhecer totalmente os atos corruptos e criminosos do governo. Sinal bastante claro do quanto com ele se identificam.

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Começo a achar que desonestidade dá um tremendo status. Até arrumaram um eufemismo para o mau-caratismo do sujeito - o nome agora é "carisma". Se foi esse o nome bonito que deram para qualificar a capacidade de engrupir tão extraordinariamente uma massa tão significativa, então concordo: o candidato à reeleição deve ser realmente um indivíduo extremamente carismático. Daqueles de dar engulhos quando aparece em close no jornal da noite ou quando tem sua repulsiva figura estampada na capa de uma revista.

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Há momentos em que me recuso a acreditar que essa massa invisível, que não se revela, é que decidirá por mim o voto nas urnas, e de que de nada adiantará meu desejo de expurgar este indivíduo desprezível do cargo que ocupa. Terei que, conscientemente, amargar mais quatro intermináveis anos de desmandos e autoritarismo de um homem que padece da mais crassa ignorância, e que pretende fazer do Brasil o país-sede do atraso.

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Isso não é uma eleição, é uma febre. Uma verdadeira e incontrolável epidemia.

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Mais uma vez, devo alertar aos visitantes que não serão permitidos comentários anônimos ou ofensivos neste blog. Porque, toda vez que manifesto minha opinião, aparece um partidário do homem. Um anônimo, como os fantasmas que citei no texto.

E, especialmente a estes, recomendo mais informação, mais educação e menos arrogância, porque estes atributos não fazem mal a ninguém.

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