Ora, pois!
Há linguagens que considero incompreensíveis.
Uma delas é esta usada na codificação deste blog - o que faz com que eu, marinheira de primeira viagem em matéria de blogs e codificações, perca horas tentando modificar a aparência, a disposição dos objetos, inserir coisas. Uma verdadeira batalha! Mas eu chego lá...
A outra linguagem praticamente incompreensível - que me perdoem os eruditos - é a do escritor português José Saramago. Nos livros dele, dois fatores colaboram substancialmente para o imbroglio: a forma como são estruturados os parágrafos e o português castiço do galego. Em muitos trechos de "Memorial do Convento", livro que eu eu intrepidamente me propus a ler, facilmente se perde o fio da meada. A gente começa a ler e logo percebe que o parágrafo é enorme, cheio de vírgulas que nem sempre separam períodos coerentes. É preciso ler de uma arrancada só, e depois ir tentando digerir as palavras na base do sentido contextual. Tudo bem, ele ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, mas vá lá...
E ele parece escrever como fala (ou o contrário). Uma vez, quando ainda estava na faculdade, eu e alguns colegas fomos assistir à uma palestra no centro do Rio. Era para o lançamento de um livro de fotos do fotógrafo Sebastião Salgado, cujos textos haviam sido escrito por ninguém menos que o ilustre portuga, que era um dos palestrantes (havia três na mesa). O Salgado falou, explicou o objetivo do seu trabalho, o modo como foi feito, etc. O segundo palestrante, que os anos e a minha idade avançada me impedem de lembrar quem era, também falou o que tinha que falar, bem explicadinho. Na seqüência, o Saramago resolveu se pronuciar a respeito de sua participação no livro do Salgado, e danou a falar uma língua ininteligível que nem o "Laércio Falaclaro" de Agildo Ribeiro daria conta de traduzir. Eu e o pessoal que estava comigo ficamos ali, no meio de um número razoável de pessoas, ouvindo aquela saraivada de palavras, mas ninguém abria o bico para confessar. Até que uma colega que estava do meu lado me perguntou em voz baixa: "Você está entendendo alguma coisa?", ao que respondi, com toda a minha sinceridade: "Nem uma palavrinha.". Ela deu um suspiro de alívio e replicou: "Ahhh, bom. Pensei que fosse só eu."
E foi assim que assisti a uma palestra do José Saramago, sem nunca ter ficado sabendo o que ele falou. E não houve ninguém que pudesse me contar.
1 Comments:
At 6:57 PM, Anônimo said…
Bom, acho que eu posso servir como testemunha visual e auricular deste "remédio para insônia" andante e falante, chamado José Saramago. Jamais vi uma palestra como essa. Talvez, a maior decepção foi porque eu não esperava isso de um escritor ganhador de um Nobel de Literatura. Esperava encontrar um escritor com um repertório mais claro de palavras, apesar dele não ser brasileiro, e sim português.
Posso não ser um bom sabedor da nossa riquíssima língua portuguesa, mas entrei na palestra entendendo do que se tratava, e saí sem entender nada...
Dani, este blog está maravilhoso. Não estou sendo parcial. Estou adorando de verdade, não só do modo com que escreve, mas com os temas. Adorei.
Mil Beijões bem carinhosos
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